
A décima Reunião de Antropologia da Ciência e da Tecnologia retornará ao Rio de Janeiro em 2025, completando 18 anos de existência e com uma bagagem de 9 encontros realizados em 7 estados diferentes.
Um balanço dos eventos anteriores aponta para uma sensível transformação do impulso inicial que guiou a criação da reunião, em 2007. Como diz o epitáfio da líder revolucionária Odo, personagem da ficção científica de Ursula Le Guin, Os Despossuídos, “a verdadeira viagem é o retorno”. Não por ser uma volta ao mesmo, ao familiar, mas por ser sempre no retorno que percebemos as transformações que passamos na viagem, como em todo bom trabalho de campo. Nesse retorno ao Rio, a décima ReACT busca refletir e mobilizar as transformações sentidas nas suas últimas edições, explorando as potencialidades etnográficas que foram abertas em torno delas nos estudos das ciências e das tecnologias e as proximidades e tensões que explicitaram entre os saberes científicos e aqueles saberes tratados pelos antropólogos como “saberes nativos” – não científicos e não acadêmicos.
Chamada a encarar de forma simétrica esses diferentes modos de conhecimento – dentro e fora das ciências, dentro e fora da academia – a antropologia se vê implicada, caso queira honrar sua vocação para o diálogo, em uma transformação da “distância segura” criada por ela e por outras ciências para lidar com outros meios de pensar. A simetrização operada por ela não pode, portanto, ser entendida nunca como uma equivalência, na medida em que relaciona modos de existência e ecologias de práticas irredutíveis entre si. E é justamente na possibilidade de um encontro entre diferentes enquanto diferentes, da aspereza desse encontro, da própria divergência em torno do encontro, que entendemos que se pode produzir uma verdadeira relação, evitando a armadilha sempre à espreita de um dos pólos terminar por englobar ou sobrecodificar o outro.
Mas os modos de relacionar saberes e práticas, na história da ReACT, evocam também outra inflexão importante em seu percurso: a do deslocamento do estudo empírico das técnicas e das ciências para o de suas consequências, intencionais ou não intencionais, o que remete aos temas das catástrofes climáticas, da intrusão de Gaia, do Antropoceno, do Capitaloceno, do Plantationceno, da epidemia xawara, entre tantos outros modos de nomear e descrever as ecologias de proliferação de morte, toxicidade e ruínas em curso atualmente. E nas alianças possíveis decorrentes desta inflexão, são as histórias técnicas que importam – tanto no que se refere aos coletivos com os quais historicamente a antropologia tratou de aprender, quanto às práticas científicas potencialmente criativas que são objeto de investigação antropológica. Ou seja, o que importa são experiências e situações em que os êxitos, as ciladas e derrotas são pensadas em companhia daqueles reunidos em torno delas, e que ao pensá-las juntos encontram formas de transformá-las.
Essas alianças tornam necessário, por sua vez, que se pense pelo meio, ou seja, que os saberes estejam sempre situados de modo a subtrair das ciências a pretensão de estabelecer um ponto de vista do todo, como uma precaução a sua vontade de poder que subjuga, anula e extermina os outros modos de pensar e estar no mundo. Nesse sentido, os diálogos entre práticas e saberes científicos e práticas e saberes outros não pode se resumir a um movimento de apropriação de falas e pensamentos provenientes de pessoas e coletivos de fora das ciências. É justamente no movimento contrário – de uma antropologia retomada por outros saberes e práticas – que entendemos que uma transformação sensivelmente interessante pode acontecer. Assim, ao nos inspirarmos no pensamento de Antônio Bispo dos Santos, considerando sua irrestrita postura contracolonial, de quem não se deixa adestrar e sabe que é na dignidade de seu povo que reside sua força, visamos seguir ampliando a Rede de Antropologia da Ciência e da Tecnologia em suas relações transversais entre práticas e modos de conhecimento. A aposta é que essa transversalidade possa evocar uma potência vital e criativa capaz de transformar mundos e tornar a Terra, ou as terras, lugares habitáveis, nos quais vale a pena se viver. E que possamos então celebrar, nesta décima reunião, esses sempre improváveis encontros que esperamos que sejam, e sigam sendo, germinantes.
CRONOGRAMA
11/03
Chamada para propostas de Seminários Temáticos (STs)
07/04
Prazo final para propostas de STs
05/05
Divulgação STs aprovados
05/05
Chamada para resumos para apresentação de trabalhos
02/06
Prazo final para submissão de resumos para apresentação de trabalhos
27/06
Divulgação dos trabalhos aprovados
30/06
DIVULGAÇÃO DA PROGRAMAÇÃO COMPLETA DO EVENTO
6-10/10
10ª Reunião de Antropologia da Ciência e da Tecnologia
17/10
Prazo final para envio dos trabalhos completos para composição dos Anais do evento
PROGRAMAÇÃO

Conferências e mesas de debate

Seminários temáticos

Oficinas e percursos
LOCALIZAÇÃO
UERJ - CAMPUS MARACANÃ
R. São Francisco Xavier, 524
Maracanã, Rio de Janeiro
RJ, 20550-013
COMITÊ CIENTÍFICO
ANELISE GUTTERRES (UFRJ)
FELIPE SÜSSEKIND (PUC-RJ)
GABRIEL HOLLIVER (UFRJ)
HUMBERTO SANTANA JR (CEFET/RJ)
JULIA SÁ EARP (UFRJ)
KAUÃ VASCONCELOS (UFRJ)
MARIA RAQUEL PASSOS LIMA (UERJ)
MARINA NUCCI (UERJ)
RODRIGO C. BULAMAH (UERJ)
ROSANA CASTRO (UERJ)
ZOY ANASTASSAKIS (UERJ)
COMITÊ DE ORGANIZAÇÃO
ANA CLARA CHEQUETTI (UERJ)
ANA PAULA PERROTA (UFRRJ)
ANELISE GUTTERRES (UFRJ)
BRUNO VILELA VASCONCELOS (UFRJ)
IBY MONTENEGRO DE SILVA ( PUC-RJ)
FELIPE SÜSSEKIND (PUC-RJ)
GABRIEL HOLLIVER (UFRJ)
HUMBERTO SANTANA JR (CEFET/RJ)
JOÃO NOVELLO WHATELY (PUC-RJ)
JOÃO VÍTOR VELAME (UERJ)
JULIA SÁ EARP (UFRJ)
KAUÃ VASCONCELOS (UFRJ)
MARIA RAQUEL PASSOS LIMA (UERJ)
MARIA JOSÉ BARRAL (CNFCP)
MARINA NUCCI (UERJ)
RODRIGO C. BULAMAH (UERJ)
ROSANA CASTRO (UERJ)








A ARTE DA 10 ReACT
As palavras germinantes de Antônio Bispo inspiram a elaboração da 10a Reunião de Antropologia da Ciência e da Tecnologia nos impulsionando a encontros, trocas, conversas e práticas com cuidado e atenção a esta Reunião por vir.
Nesse percurso, confluir foi tanto o convite, quanto um desafio. É com esse mote que o Comitê Científico, junto às designers do Estúdio Afluente, convidou um grupo de mestres e mestras envolvidos no projeto de pesquisa “Cozinha das Tradições” (ESI/UERJ) para um encontro com o objetivo de gerar elementos e visualidades para a identidade da 10ª ReACT.
O fazer das imagens foram provocados por uma roda de conversa sobre como as palavras de Bispo ressoam em cada um. Que imagens e que memórias poderiam ser “germinantes”? Usando placas de argila como matrizes para imprimir desenhos e elementos naturais, experimentamos nos engajar de maneira aterrada e cuidadosa para co-criar tanto uma identidade visual para o evento, quanto laços que inspirem propostas para composição de oficinas durante a 10a ReACT.






